sexta-feira, 29 de outubro de 2010

O homem e a chuva


Tudo deve ser culpa do ciclo da água. O calor do sol aquece nosso corpo e faz transpirar. Aquece as gotas de água presentes no ar, transformando-as em gás, e atinge os oceanos criando uma grande quantidade de vapor. Com isso, formam-se as nuvens, que são carregadas pelo vento até os continentes e fazem chover. Um ciclo nada perfeito.

Ao mesmo tempo em que a água volta ao solo trazendo vida, leva algumas com ela. Cria pequenas poças, esmaga animais menores e dificulta tudo de um modo geral. Às vezes, a chuva traz consigo o frio, a neve. Em outras, traz o vento, que não contente com a sua participação na história até aqui, aparece de novo só para importunar.

E sempre foi assim. Quando chovia, as espécies buscavam formas para não se molhar ou machucar. Copas de árvores, folhas grandes, grutas, cavernas. Qualquer coisa capaz de refrear o ímpeto das águas ou minimizar seus efeitos. E, enfim, todos aprenderam a ver na natureza possibilidades de segurança. Até mesmo o homem.

Mas a mãe terra foi gentil demais conosco. Ela nos concebeu com maior inteligência e fomos obrigados, ainda na antiguidade, a ir além dos outros animais. Mais hábeis e espertos, construímos nossas próprias moradias com teto, e depois, na Mesopotâmia, inventamos artefatos para proteger a cabeça de nossos líderes. Um feito notável.

O homem, então, seguiu seu processo evolutivo rumo à perfeição. Fez avançar a tecnologia e ampliar a praticidade de suas invenções. Usou toda a sua astúcia para dar vida a marquises e guarda-chuvas e, assim, proteger todos – quer em ambientes abertos ou fechados. Uma verdadeira amostra de inteligência.

Mas, em pleno século XXI, no auge da racionalidade, surge uma dúvida: se somos tão espertos e capazes assim, POR QUE, DIABOS, AS PESSOAS INSISTEM EM ANDAR DEBAIXO DE LOCAIS COBERTOS COM SEUS GUARDA-CHUVAS ABERTOS?

Só pode ser culpa do ciclo da água.

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Esse texto foi escrito para o Desafio 6 do site "Portfólio Sem Vergonha", que propôs o tema "Proteste" e deu liberdade total para a criação. Ainda aqui, gostaria de indicar e elogiar o PSV por sua iniciativa, pela dedicação que dedica a sua atividade e pela oportunidade que da a nós escritores.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Cansei!


- Pra mim chega! - Disse ele. - Direto e claro como um título, meu eu está cansado, sem vida. Fui consumido pela distância entre meu corpo e o dela, entre nossas bocas. Fui corrompido pela seca que arde em meu peito e pela ausência que insiste em ocupar meu mundo. Não sei mais o que esperar para tê-la de volta. Estou sob um fardo pesado e invisível que envolve minhas entranhas e torna difícil o menor movimento, inútil a menor tentativa. Não sei mais o que sou. Sou ainda alguém, alias?

Ele olhou dentro dos meus olhos com um enorme pesar. De repente, pareceu achar graça de algum pensamento e esboçou um sorriso. Mas logo seu rosto voltou a tencionar e ele prosseguiu:

- Sabe o que é pior? - Uma pausa dramática para potencializar suas próximas palavras - Apesar da dor ou da força de qualquer saudade, o sentimento prevalece. Eu a amo. Realmente a amo.

Virei o rosto e fitei o horizonte. De início, deixei o silêncio falar por mim, retardando ao máximo a ânsia de tecer qualquer comentário. Depois, escolhi cuidadosamente cada palavra e disse o que realmente queria dizer:

- É. Eu sei muito bem como é se sentir assim.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Relações


O azul toma o céu,
E a vista é linda.
No peito, o coração ri alto e assobia.
: tudo fica tão perfeito...

Mas chegam ventos e chuva,
Beleza e paz são perdidas.
Existirá maior ironia na vida?

Não tarda e vem esperança,
Quando os olhos abrem e questionam
E o mundo inteiro entra na dança.

E enfim, tudo é alívio:
Céu limpo, alegria,
Céu sujo, sentido.

Nuvens de outrorá ganham formas e cores.
E se tudo fossem sempre flores?

Do caos surgem possibilidades esquecidas, então.
E não será o mesmo com vida e inspiração?