Eram apenas crianças, mas nunca iriam se esquecer do que viram naquele dia. Do alto de seus 10 ou 11 anos, todas se amontoavam nas janelas de uma Kombi antiga a procura de espaço, ávidas por detalhes com os quais jamais ousaram sonhar ou descrever.
Quando o tio de uma delas anunciou que viajaria a trabalho na manhã seguinte, os olhos de todas brilharam, em uma suplica silenciosa capaz de tocar qualquer coração. Queriam ir junto, desbravar o desconhecido, e foi impossível negá-las qualquer coisa. Pouco tempo depois, separadas algumas roupas e alimentos, esperaram insones pela partida, quando seguiram juntas, confinados entre caixotes, sacas, embalagens e flores.
Vinham de uma terra muito distante, onde reinavam árvores centenárias, campos sem fim e o clima fresco da natureza. E a ilusão de enfim conhecerem uma cidade grande tornou-se real sem aviso, quando o tio fez-se ouvir sem rodeios:
Vinham de uma terra muito distante, onde reinavam árvores centenárias, campos sem fim e o clima fresco da natureza. E a ilusão de enfim conhecerem uma cidade grande tornou-se real sem aviso, quando o tio fez-se ouvir sem rodeios:
"Chegamos".
Houve um momento de suspense e, subitamente, euforia. Meninos e meninas não sabiam o que olhar primeiro. Eram carros que nunca tinham visto, prédios altos por demais e mais água do que jamais pensaram existir. O mar era inédito para aquelas crianças, assim como mergulho do sol nas águas e a brisa que soprava em sentido à praia. Estavam no paraíso.
Houve um momento de suspense e, subitamente, euforia. Meninos e meninas não sabiam o que olhar primeiro. Eram carros que nunca tinham visto, prédios altos por demais e mais água do que jamais pensaram existir. O mar era inédito para aquelas crianças, assim como mergulho do sol nas águas e a brisa que soprava em sentido à praia. Estavam no paraíso.
De tudo que viram, o que mais as marcaria era uma construção escura que desafiava suas lógicas juvenis: uma ponte composta de duas torres, cabos de aço e muito concreto. Ela ligava ilha e continente e era tida como o cartão postal daquele lugar. Tão linda e incrível que não tardaria em ocupar seus corações.
Naquele momento, o som do vento seria a única companhia daquelas almas se não fosse a fila de carros e buzinas que se formava atrás da Kombi, seguidas de gritos e xingamentos de pessoas que há muito perderam a capacidade de observar e contemplar.
Pobres homens esses, que ignoram a beleza de sua própria cidade.