Era tempo.
Deitado em uma cama e coberto com um fino lençol, seria novamente ator em sua própria história, sujeito de seu caminho e narrador de suas lições. Para uma pequena platéia, composta por alguns médicos e amigos, contaria pela última vez os fatos de toda sua vida.
Se parecia velho e cansado, sabia como ninguém juntar frases, criar contextos e transparecer emoções. Tinha carisma. E do alto de sua grave voz fazia da mais simples ação, aurora; do mais monótono diálogo, música.
Abriu seus olhos. Olhou ao redor. Respirou fundo e fez uso das lembranças ainda vivas em sua pele e memória. Início, meio e fim. Recordou cada passo dado e seus destinos. Lembrou as palavras proferidas e todas as emoções que um dia habitaram seu coração.
Ele gastou suas últimas palavras narrando erros e acertos, derrotas e vitórias. Fez com que aquele momento se transformasse em um sopro de inspiração e significado para os presentes. Mesmo sem nunca ter tido uma vida para chamar de sua.
E enfim, fez o que mais esperava.
Tornou a fechar os olhos e vagou em definitivo para outro mundo.
Um homem que preferia sonhar a viver.
Um comentário:
Nossa, mto bom o texto, parabéns!
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