Ao mesmo tempo em que a água volta ao solo trazendo vida, leva algumas com ela. Cria pequenas poças, esmaga animais menores e dificulta tudo de um modo geral. Às vezes, a chuva traz consigo o frio, a neve. Em outras, traz o vento, que não contente com a sua participação na história até aqui, aparece de novo só para importunar.
E sempre foi assim. Quando chovia, as espécies buscavam formas para não se molhar ou machucar. Copas de árvores, folhas grandes, grutas, cavernas. Qualquer coisa capaz de refrear o ímpeto das águas ou minimizar seus efeitos. E, enfim, todos aprenderam a ver na natureza possibilidades de segurança. Até mesmo o homem.
Mas a mãe terra foi gentil demais conosco. Ela nos concebeu com maior inteligência e fomos obrigados, ainda na antiguidade, a ir além dos outros animais. Mais hábeis e espertos, construímos nossas próprias moradias com teto, e depois, na Mesopotâmia, inventamos artefatos para proteger a cabeça de nossos líderes. Um feito notável.
O homem, então, seguiu seu processo evolutivo rumo à perfeição. Fez avançar a tecnologia e ampliar a praticidade de suas invenções. Usou toda a sua astúcia para dar vida a marquises e guarda-chuvas e, assim, proteger todos – quer em ambientes abertos ou fechados. Uma verdadeira amostra de inteligência.
Mas, em pleno século XXI, no auge da racionalidade, surge uma dúvida: se somos tão espertos e capazes assim, POR QUE, DIABOS, AS PESSOAS INSISTEM EM ANDAR DEBAIXO DE LOCAIS COBERTOS COM SEUS GUARDA-CHUVAS ABERTOS?
Só pode ser culpa do ciclo da água.
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Esse texto foi escrito para o Desafio 6 do site "Portfólio Sem Vergonha", que propôs o tema "Proteste" e deu liberdade total para a criação. Ainda aqui, gostaria de indicar e elogiar o PSV por sua iniciativa, pela dedicação que dedica a sua atividade e pela oportunidade que da a nós escritores.
Um comentário:
Em vez de guarda-chuvas abertos comprados de prateleiras, deviamos guardar conosco os braços abertos a espera de um toque qualquer.
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