quinta-feira, 4 de novembro de 2010

O retrato em sépia


Com os cotovelos apoiados em uma humilde e bem feita escrivaninha, ele fitava o sorriso naquela foto. Não estava em seu quarto, aquelas não eram as suas coisas e aquele não era seu retrato. Tampouco eram aquelas sua cidade e história, mas o sorriso...

Quisera ele poder voltar atrás e fazer as coisas diferentes. Por mais amigos e experiência que tivesse ou feliz que fosse, sentado naquele cômodo pode sentir um aperto firme no peito. Uma espécie de dor ausente que, mesmo sem saber porque, sempre soubera existir.

Agora, o caminho que a vida tomava e suas escolhas passadas moldavam uma espécie de motivo para tal sentimento. Era ali que ele desejava ter nascido. Eram as pessoas daquele local que ele queria ter conhecido e ali que desejava ter plantado sua pedra fundamental, ter tido sua vida.

Quisera ele voltar no tempo e, acima de qualquer outra alternativa, escrever uma outra e completamente nova infância. Novos caminhos, novos aprendizados, novas companhias.

Não que ele desejasse esquecer os contornos e as cores desta vida. Mas porque assim - e só assim, quem sabe - ele veria aquele sorriso brilhar de novo.

O sorriso que um dia roubou e nunca mais conseguiu devolver.

8 comentários:

Maíra K. disse...

Pois é, muitas vezes queremos voltar atrás, reescrever nossa história e ver como ela seria, se melhor ou a mesma coisa... Mas sou do tipo de pessoa que acredita que as coisas acontecer porque tem que acontecer, e aconteceriam da mesma forma só que por meios diferentes, hehehe.

Para quem não gosta tanto da da própria história, que tal tentar mudar o rumo daqui pra frente, só aproveitando as coisas boas que já aconteceram?

beijos!

Maíra K. disse...

Eu de novo, rs.

Então,

Não, não faz tempo que você não vai lá no blog, rs. Sou eu que ando sem tempo pra escrever mesmo, infelizmente =/

Vamos ver se no fim de semana sai alguma coisa, não é? Uwr me ajudar não? hehehe.

Beijos, ;**
bom fim de semana!

Bruno Batiston disse...

Li ontem, não sabia bem o que dizer. Acordei hoje e entendi que, na real, eu me identifiquei. Acho que por esta vontade de voltar no tempo e experimentar "novos caminhos, novos aprendizados, novas companhias"... Mas aí eu paro e penso: tudo foi válido, ainda que nem sempre tenha sido bom... Mas e esse bom, o que é? Fica a esperança de ter aprendido alguma coisa, ao menos.

Espero que o sorriso volte e permaneça. É essencial, não?

Abraço!

Maria Midlej disse...

Que bonito, rapaz.

Voltar no tempo parece ser desejo de muita gente, não é? Só que, sei lá, ando pensando que o segredo nao é nem voltar, nem acelerar... acho que o bom seria o tempo passar devagar, no nosso ritmo, pra que não doesse tanto quando ele fosse embora de vez. rs

Muito bom aqui, mesmo.
beijo grande.

Nathália Azevedo disse...

Um sorriso que fora roubado... E memórias que queriam ser acrescentadas...

Me soou como um sonho, daqueles que sonhamos acordados.. Daqueles que fechamos os olhos e desejamos com todas as forças que se materializem...

Me soou como um sonho poético, nada mais justo para um dos meus poetas tão queridos!

Parabéns, Cello! E desculpa a ausência desenfreada, rs. :)

Bjo!

Maria Midlej disse...

Eu de novo... agradecendo o imediato retorno rs

Bom, quanto a seu comentário, a metáfora no conto não é ''matar o amor'' é na verdade ser morto por ele. rs
Mas, enfim... fico feliz que tenha gostado. Vou te linkar, inclusive, porque tava aqui lendo uns outros textos seus... coisa boa, ein?

Lu S. disse...

Identifiquei-me bastante com as palavras. Às vezes sinto essa vontade de voltar e viver uma vida que não foi minha e não mais deixar tantos sorrios serem roubados.
Um texto com uma tristeza muito bonita.
beijos.

Unknown disse...

Às vezes, é mais fácil darmos as mãos as lembranças que guardamos do que aos que estão ao nosso lado. Mesmo que a pessoa da lembrança seja a mesma que está a estender a mão...