terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Nenhum


No meio de "Lugar Nenhum", erguia-se uma única e simples casa. E, dentro dela, vivia um único e infeliz homem.

A casa, que de fato não merecia tal nome, era muito velha, e estava mais para um "local-circundado-por-quatro-frágeis-paredes-de-madeira-e-um-teto" do que para qualquer outra coisa. E o teto, bem... Tampouco merecia ser chamado assim.

Também do lado de fora nada era decente ali. A terra virava barro, quando algum milagre trazia a chuva, e depois voltava a ser terra. Sem nenhum sinal de qualquer fauna ou flora - nem grande, nem pequena; nem viva, nem morta.

Ou, ao menos, assim era até o Rio chegar.

Quem diria que "Lugar Algum" tinha alguma montanha? E quem diria que dessa uma nasceria e desceria destino a casa do homem sozinho um persistente, insistente, resistente e valente Rio?

Pois então... O Rio chegou e mudou tudo.

Ele transformou o nada, e do choque sofrido pelo todo surgiram as primeiras cores. Com as cores, vieram também os primeiros animais, mudando pouco a pouco aquele pedaço de terra chamado "Lugar Nenhum" e encantando seu mais antigo morador.

O homem, que até então se alimentava de tédio e bebericava doses amargas de tristeza, gostou muito daquilo que viu. Não sabia como tinha chegado ali, mas gostava. Estava feliz e pensava até mesmo em mudar o nome da cidade para comemorar.

Para "O Lugar", talvez.

Ele só não sabia que nem todo presente vem e simplesmente fica. É preciso cuidar e é preciso cuidado. E ele ainda ia demorar um tempo para entender que quase tudo é eterno enquanto dura e depois acaba.

Mas, como a história termina aqui, não sei dizer que fim o homem levou.

Só posso afirmar que sem o Rio ele não era nada. Que sem aquele persistente, insistente, resistente e valente Rio, ele era nenhum.

8 comentários:

Luna Sanchez disse...

"Quase tudo é eterno enquanto dura" é uma grande verdade, Marcelo! O tempo é relativo, a eternidade é uma ilusão mas nada disso tira a beleza e a graça da vida.

Simples assim, como o rio (ou o Rio).

=)

Beijo!

ℓυηα

Vinícius Remer disse...

Dentro de todos nós existe um "Lugar Nenhum" e o dito rio que corre para nos salvar..

Mari. disse...

De 'lugar algum' para 'o lugar'. É assim com o texto, é assim, às vezes, com a vida.

=D

Maria Midlej disse...

Primeiro que eu amei a metáfora do homenzinho e do rio... hahaha Porque é mesmo verdade, quando o ''rio insistente'' chega, tudo muda. Queria saber do fim.. mas nao ficou faltando nada. Adorei, mesmo, marcelo. Lugar nenhum é o coração da gente né, de vez em quando a espera é tanta que o desleixo começa e a casa vira um "local-circundado-por-quatro-frágeis-paredes-de-madeira-e-um-teto"... haha

Só um erro bobo de digitação ali, pro final ''Não sabia como tinha chego ali, mas gostava.'' é chegaaaado, marcelo. corre lá pra mudar, antes que venha gente chata encher o saco!! =xxxx

Enfim, esse texto ficou massa
b eijão

Natalya Nunes disse...

Oi, Celo..
Que texto lindo.. Vc escreve muito bem. Já te disse isso, né?

Esse texto faz refletir sobre a vida.. Muitas vezes existe algo que pensamos que pode nos destruir, assim como o rio, mas ele trouxe vida nova ao Lugar, que antes era nenhum...

Lindo mesmo!

Bjs

Mari. disse...

Não é que no alto de minha insignificância, eu mudei o texto do cara...
Eita, que eu tô ficando importante.
#brinadeira
A gente sempre sai de 'lugar algum' para 'o lugar', seja lá como, ou onde, ele for.

=)

Hiorrana disse...

"É preciso cuidar e é preciso cuidado."
E mesmo assim vai acabar. Não ha cuidado que transforme alguma coisa em eterno.
Mas mesmo assim, acho que o homem deve ter guardado na lembrança o Rio. Alguma coisa sempre fica...

Adorei sua maneira de escrever.
Parabéns!
Beijos

Unknown disse...

E o rio sempre traz a cor. E a cor dura enquanto o seu eterno for.
Adorei. Mesmo.